terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Após tiro, modelo volta a ativa em cadeira de rodas e vai lançar agência



Samantha Bullock, 36, começou a trabalhar como modelo aos 8 anos de idade. Aos 14, um acidente com arma de fogo fez com que ela ficasse paraplégica. Ela voltou às passarelas há cerca de dez anos e agora quer lançar agência no Brasil.
Veja abaixo seu depoimento:
Nunca pude botar a culpa em ninguém nem me colocar como vítima pelo meu acidente. Fui eu quem o causei.
Quando tinha 14 anos, descobri onde meu pai escondia uma arma, a peguei por curiosidade e disparei sem querer. Após o primeiro médico me examinar, ainda acordada, o ouvi dizer que a bala pegou minha medula e eu não voltaria a andar.
A modelo Samantha Bullock. Foto: © WheelieChix-Chic
A modelo Samantha Bullock. Foto: © WheelieChix-Chic
Um mês depois, recebi uma ligação de São Paulo me convidando para participar de uma campanha grande com desfiles no exterior. Foi o meu maior baque. Meu sonho até aquele momento era desfilar, ter uma carreira lá fora.
Se eu pudesse ir até o desfile na cadeira de rodas, andar alguns passos na passarela e depois sentar nela pelo resto do dia já estaria bem.
Fiz meu primeiro desfile aos 8 anos de idade. Sempre fui a menina mais alta da turma. Morávamos em Capão da Canoa (litoral norte do Rio Grande do Sul) e um dia o dono de uma loja de roupas para crianças perguntou para minha mãe se eu poderia participar de um desfile. Ela me deixou decidir e eu disse que sim. Aos 13 anos, já tinha uma carreira profissional.
Depois do acidente, não sabia que poderia voltar. Passei na faculdade de direito e me envolvi com política, trabalhando como assessora na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Fui morar em Brasília e o senador Paulo Paim (PT-RS) me chamou para trabalhar com ele. Na época, ele estava elaborando o Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Nesse tempo, chegou para mim um pedido de verba para ajudar uma escola de tênis em cadeira de rodas de Brasília. Pensei: “Isso é a maior falcatrua do mundo”. Eu jogava tênis antes do meu acidente, mas não sabia que existia uma cadeira especial para o jogo e que era permitido que a bola quicasse duas vezes no chão.
Fui para a tal academia de tênis. Dali em diante, comecei a sair do trabalho todo o dia e ir jogar. Em pouco tempo, ganhei da número um do Brasil. Vi que tinha potencial.
Resolvi apostar nisso. Pedi demissão do meu trabalho, tranquei a faculdade e peguei o cartão de crédito do meu pai, sem ele saber, e marquei uma reunião com a Medley (empresa do setor farmacêutico). Consegui fechar um patrocínio com eles e comecei a me dedicar só ao tênis.
Conforme me destacava no esporte, surgiam outros patrocínios. Uma marca de cadeira de rodas pediu que fizesse fotos de divulgação para ela. Adorei desde a primeira vez que fiz.
No meu primeiro desfile com a cadeira, em Goiás, apareceu logo o primeiro desafio: um degrau na entrada da passarela. Mas não podia perder a chance, decidi que iria com dois modelos do meu lado, para me subirem.
O esporte me levou para fora do Brasil. Em um torneio na Suécia, conheci meu marido e decidimos morar em Londres há sete anos.
Logo que cheguei à Inglaterra procurei a VisAble, agência de modelos fundada há 20 anos e a única que naquela época percebia que havia um mercado de modelos com deficiência. Fiz propagandas para TV, apareci em séries e fui capa de revistas.
Trabalhamos há um ano juntos para lançarmos uma agência inclusiva para o Brasil. Vamos começar a buscar modelos com deficiência aqui a partir de 2015.
Existe um mercado com potencial de crescimento aqui. Sou embaixadora do projeto Fashion Inclusivo e dou aulas para pessoas com diferentes deficiências. Começamos com 15 crianças e agora temos mais de 50. Somos procurados por adultos de fora de Brasília.
Fonte: Jornal Floripa

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