A amamentação materna é um cuidado importante durante os primeiros meses de vida de um bebê, com ou sem síndrome de Down. No caso de recém-nascidos com a síndrome, muitas vezes é necessário que a mãe insista um pouco mais até que a criança consiga mamar no peito, mas o esforço vale a pena. A pediatra Ana Claudia Brandão explica que os benefícios vêm em dobro.
“É claro que existe a hipotonia (baixo tônus muscular), mas é totalmente viável amamentar uma criança com síndrome de Down. Além da nutrição, proteção imunológica e vínculo com a mãe, o ato de mamar trabalha a força para sugar. O bebê faz um movimento com a face que é bem diferente de mamar na mamadeira. É mais uma forma de estimular o desenvolvimento dele”, afirma a médica, mãe de um adolescente com síndrome de Down.
Especialista no atendimento de crianças com a síndrome, Ana Claudia Brandão conta que é comum receber em seu consultório mulheres aflitas por conta da suposta impossibilidade do aleitamento materno para seus bebês. A pediatra reforça que a amamentação é possível e benéfica inclusive para as mães, principalmente nos casos em que o diagnóstico da trissomia acontece após o parto. “É um momento sagrado na conquista do vínculo com aquela criança, que de repente não era exatamente o que a família planejava”.
Mães criam truques para facilitar aleitamento
A advogada Ana Claudia Correa não sabia que seu filho Pedro tinha síndrome de Down ao amamenta-lo pela primeira vez. A hipotonia não intimidou a mãe de primeira viagem, que tratou de segurar a cabeça do bebê para encaixá-lo no peito como tinha aprendido com a enfermeira. “Ele pegou o peito já na maternidade e nunca tivemos problema. Amamentei o Pedro até os nove meses, quando ele parou por iniciativa própria”, conta.
Após amamentar as duas primeiras filhas por sete meses e um ano, respectivamente, Patricia Almeida nem cogitou deixar de viver este momento com a caçula Amanda, que tem síndrome de Down. Para isso, ela teve que aprender a lidar com a sonolência da filha, que começava a cochilar logo depois de começar a mamar e perdeu peso nos primeiros dias. “Não foi fácil, mesmo para uma mãe experiente como eu. O jeito era tentar acordá-la. Meu marido e minhas filhas ajudavam, fazendo cosquinha nos pés dela, colocando água gelada nas bochechas… Valia qualquer coisa pra ela mamar”, lembra a integrante do conselho da Down Syndrome International e colaboradora do Movimento Down.
Outro artifício utilizado por Patricia Almeida era colocar a filha em uma posição vertical para mantê-la acordada e evitar que o leite fosse para seus ouvidos. “Com o tempo ela foi ficando mais desperta e mamando melhor. As primeiras semanas foram bem difíceis, mas valeu a pena o sacrifício”, comemora.
Ana Claudia Brandão conta que Pedro, hoje com 17 anos, nasceu com uma cardiopatia, condição que afeta cerca de 50% das crianças com síndrome de Down. O problema foi diagnosticado justamente pela percepção de que havia alguma coisa errada durante a amamentação. “Notamos que ele estava cansando mais do que o normal para mamar. Procuramos um novo cardiologista e constatamos a cardiopatia”.
Depois de passar por uma operação para corrigir o problema, Pedro acabou passando para a mamadeira. Mesmo assim, a pediatra conta que os momentos vividos durante o aleitamento materno foram fundamentais para a relação com seu filho. “Amamentar um bebê com síndrome de Down não é fácil, requer muita paciência e disponibilidade. É um ato de insistência, mas a importância para mãe e bebê vale o esforço”, ressalta.
Programa da Fiocruz auxilia mães a amamentarem
A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, um programa desenvolvido pela Fiocruz, orienta mães que têm dúvidas ou dificuldades de amamentar. Para entrar em contato com os hospitais que fazem parte da rede, clique aqui.
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