segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Apoio, inclusão e afastamento: encontrando o equilíbrio

Ao estudar educação inclusiva na perspectiva de um educador e pesquisador, tive a oportunidade de refletir sobre minhas próprias experiências como criança. Por ter perdido minha visão aos oito anos de idade, tive a oportunidade única de experimentar a educação regular (antes de me tornar cego), a educação especial (no ano em que levei para aprender braile, mobilidade e outras habilidades necessárias à rotina) e a educação inclusiva (quando retornei ao meu bairro). Acredito que frequentemente os educadores subestimam o estresse que um estudante sente quando recebe a indicação de ir para a educação especial em classe segregada. A experiência pode ser solitária, amedrontadora (em alguns casos) e humilhante. A transição da educação especial para a inclusiva, no entanto, também pode ser bastante intimidadora. O desafio está em encontrar o equilíbrio perfeito entre apoio, afastamento e inclusão.
Devido à minha cegueira ter ocorrido próximo ao fim do meu segundo ano escolar, comecei o terceiro ano numa classe de educação especial numa escola segregadora. Considerou-se que era necessário, na época, porque meus pais e professores acreditavam que seria a melhor forma de me fazer aprender rapidamente habilidades, como o braile, que eu precisaria. No entanto, essa transição foi assustadora, pois significou que eu estava “deixando” a escola onde sempre havia estudado com meus amigos e vizinhos. Eu não me sentia mais parte da comunidade e perdi o contato com muitas das crianças com quem havia convivido até então.
Fiquei sem voltar ao meu bairro por três anos, tempo em que vagarosamente fiz a transição da educação segregada para classes mais integradas, mas ainda numa escola separada. Quando voltei à escola da minha vizinhança, havia se passado tanto tempo, que mais parecia mudar de cidade do que voltar para casa. Foi, de novo, muito estressante e assustador. Eu tinha me tornado uma pessoa diferente, assim como muitos de meus amigos de outrora.
No meu caso, a educação especial foi absolutamente necessária? Quando perdi minha visão, em 1992, a escola próxima não tinha a capacidade ou a experiência necessária para educar um estudante cego. Infelizmente, a educação especial era a melhor solução disponível à época. Não havia razões, entretanto, para que meu distrito não pudesse ter me dado uma excelente educação, se eles tivessem seguido um modelo inclusivo ou se tivessem educadores treinados em atendimento especializado. Significaria encontrar um equilíbrio entre o tempo que eu usaria aprendendo com meus pares enquanto ia adquirindo habilidades específicas para minhas necessidades.
Em alguns casos, a retirada ou a instrução separada para crianças com deficiência é necessária. No meu caso, aprender a usar uma bengala era algo que precisava acontecer de forma privada, num ambiente onde eu pudesse ter um tempo particular com um instrutor. Da mesma forma, uma criança que está fazendo um acompanhamento fonoaudiólogo ou outra habilidade de vida diária pode se sentir constrangida de treinar em frente a uma plateia de seus pares. Mesmo no melhor dos cenários, por vezes, separações temporárias podem ser apropriadas. Nosso objetivo deve ser sempre o da inclusão, o máximo de tempo possível, mas devemos reconhecer também as necessidades individuais.
Um dos desafios mais difíceis quando nos concentramos no modelo inclusivo, por outro lado, é encontrar o nível adequado de apoio para dar aos estudantes com deficiência na sala de aula. Suporte demais é tão danoso quanto de menos. Sem nenhum apoio, o educando não terá acesso ao currículo. Nesse caso, perde-se tempo e o estudante é negligenciado. Apoio demais, pode acabar isolando-o.
No meu primeiro ano de volta ao meu bairro, uma apoiadora passou quase todo seu tempo na classe, caso eu precisasse de ajuda. Ela leria as palavras que o professor escrevesse no quadro ou me ajudaria com papéis que eu não pudesse ler sozinho. Com um adulto sempre próximo a mim, entretanto, os outros estudantes se sentiam relutantes em se aproximar. O professor também podia se eximir de fazer esforços para adaptar suas lições para minhas necessidades específicas. Ao invés de o professor aprender a ler em voz alta o que escreveu no quadro, ele dependia de meu assistente para ler. Ao mesmo tempo, outros estudantes não sentiam a necessidade de me incorporar em seus grupos, porque eu tinha minha própria parceira permanente.
Durante esse tempo, eu me senti envergonhado de ter uma assistente na classe e, por mais que ela ajudasse, eu não a queria presente. Tal fato é comum em outros estudantes com deficiência com quem conversei. É possível ser uma classe inclusiva e, ainda assim, isolar, como resultado de excesso de apoio. Uma estratégia típica, que eu acredito funcionar bem, é ter um assistente de educação especial que ajude a classe toda, e não só um único estudante. Uma estratégia igualmente muito positiva é pedir aos outros estudantes da sala que ajudem a fazer o papel do assistente. É surpreendente o quão dispostos os estudantes são para oferecer ajuda a um colega que tem deficiência, mas apenas quando eles enxergam que a necessidade existe. Se é esperado que um adulto vá ajudar, é pouco provável que outros estudantes intervenham. Enfim, a inclusão não é realmente sobre ensinar estudantes como viver e trabalhar juntos? Parte disso significa ensinar aos estudantes como se ajudar.
Na época em que eu estava no ensino médio, minha escola desenvolveu um sistema de inclusão que funcionava bem. Antes de cada aula nova, eu me encontrava com o professor para discutir como ele podia fazer sua didática mais acessível. Na maioria das vezes, significava apenas ler materiais que punha no projetor ou no quadro. A auxiliar que havia me apoiado anteriormente em classe continuava a me dar ajuda no manejo das apostilas que os professores preparavam, mas começava também a fazer outros trabalhos na escola. Quando os projetos eram visuais, eu discutia formas alternativas de completar as tarefas. Amigos se tornaram meus assistentes na classe, ajudando com materiais que não estavam em braile. Se antes eu era o “menino cego” da minha escola, me tornei “apenas outro garoto”. Essa foi a mudança mais importante de todas e, penso eu, uma grande vitória para a educação inclusiva.
Nicholas Hoekstra trabalha como pesquisador para o Creative Associates International e está no conselho de administração do Abroad with DisabilitiesSite externo.. Tem mestrado em Políticas Internacionais de Educação pela Universidade de Educação de Harvard e bacharelado em psicologia pela Universidade de Michigan

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