Na última semana, muito se ouviu falar da história de amizade entre a gatinha Thula, da raça Maine Coon, e a menina Isis, de quatro anos, diagnosticada com autismo. Segundo os pais da garota, ela se recusava veementemente a usar roupas. Com a chegada de Thula à casa da família em Market Harborough, na Grã-Bretanha, a menina começou a se vestir e, discretamente, começou a ser mais verbal. Como? Conversando com a gata.
Segundo a pet terapeuta Karina Schutz, os animais podem despertar empatia a tal ponto de fazer com que pacientes diagnosticados com autismo ou depressão deem grandes passos em relação às suas doenças:
Seu cão, gato, coelho ou periquito pode lhe ajudar a superar momentos de extrema tristeza – mas eles também ajudam pacientes com depressão, autismo e deficiência mental por meio da TAA, a Terapia Assistida por Animais
Muitas vezes, o maior conforto em momentos de dificuldade vem de nossos animais de estimação. Seja com aquele olhar de quem nos entende (todo dono de bicho jura de pés juntos que o animal "entende tudo o que ele diz", não é?), com uma festinha ou um ronronar, os pets são responsáveis em grande escala por fazer de seus donos, com sua parceria e amor inabaláveis, pessoas mais felizes.
É por isso que, muitas vezes, o auxílio dos bichinhos é procurado em momentos de depressão ou em ataques de fobia. Para crianças com autismo e necessidades especiais, cães, coelhos, calopsitas e outras espécies de melhores amigos do homem são coterapeutas na hora de estimular vínculos afetivos. Com os idosos, eles animam o ambiente e dão uma dose extra para os habitantes de casas de repouso e residenciais geriátricos pelo mundo afora.
— Suponha que uma pessoa com depressão adquira um animal de estimação. O que esse animal vai fazer? Ele vai fazer com que a pessoa tenha que dar cuidado ao animal. Se tu tiver que dar comida, por exemplo, é responsabilidade tua. Ele não vai viver sem ti. Tu vais te sentir importante pelo simples fato de ter alguém para cuidar. Tu podes até ter um filho e ter responsabilidade sobre ele, mas a diferença que desperta, o carisma que desperta do animal para a pessoa é diferente, porque o filho discute com a pessoa e o animal não te julga, acaba te amando incondicionalmente.
Assim como a gatinha Thula "auxilia" Iris com sua pintura e com suas aulas, os animais têm o poder de estimular as funções sociais, diz Karina:
— Muitas vezes, tu utilizas um animal para trabalhar com uma pessoa. Para fazer com que essa pessoa leve o cachorro para passear na rua, isso ajuda a pessoa que tem depressão, porque ela acaba saindo de casa, indo para a rua, colocando o animal dela num parque, acaba fazendo amizade com outras pessoas que tenham cães. O animal é um grande estimulador das funções sociais, das habilidades sociais do ser humano.
Porta entreaberta para os animais em hospitais
No entanto, nem todas as pessoas que poderiam se beneficiar da Terapia Assistida por Animais (TAA), como é chamada, podem ter acesso a ela. Os animais ainda são barrados na maioria dos ambientes hospitalares do Brasil. O terapeuta pode trabalhar com animais em consultórios particulares, mas sua entrada em hospitais é vetada. Em Porto Alegre, nenhuma instituição permite o trabalho com animais terapêuticos e nem a entrada dos animais de estimação dos internados, nem aqueles em unidades semi-intensivas. No Estado, o Hospital Centenário, em São Leopoldo, e o Hospital Universitário de Pelotas já adotam a prática, mas a TAA ainda engatinha no país.
Em âmbito federal, um projeto de autoria do deputado Giovani Cherini tramita na Câmara com o propósito de habilitar os hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a disponibilizarem a TAA a seus pacientes. No entanto, a causa ainda espera seu paladino na política, para que mais histórias como a de Isis e Thula possam acontecer não apenas em casas, mas em estabelecimentos de saúde no país inteiro.
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