Estudo mediu consumo de lanches por 11.740 crianças americanas e avaliou resultado de testes acadêmicos
Manter as crianças longe das batatas fritas dá trabalho, mas um estudo realizado pela Universidade de Ohio, nos EUA, e publicado na revista “Clinical Pediatrics” sugere que o futuro dos pequenos depende desse esforço. Comer fast-food, segundo a pesquisa, está ligado a um pior desempenho escolar.
Manter as crianças longe das batatas fritas dá trabalho, mas um estudo realizado pela Universidade de Ohio, nos EUA, e publicado na revista “Clinical Pediatrics” sugere que o futuro dos pequenos depende desse esforço. Comer fast-food, segundo a pesquisa, está ligado a um pior desempenho escolar.
Ao responder quantas vezes tinham consumido uma refeição ou lanche de um restaurante de fast-food, incluindo aí McDonald’s, Pizza Hut, Burger King e KFC, 52% das crianças disseram ter comido em algum deles entre uma e três vezes na semana anterior, e 10% haviam ingerido esse tipo de alimento de quatro a seis vezes. Para outros 10%, esse consumo tinha sido diário.O levantamento mediu o consumo desses “lanches rápidos” por 11.740 crianças americanas de 10 anos e avaliou o resultado de testes acadêmicos realizados três anos depois, quando elas estavam na 8ª série do ensino fundamental. Aquelas que consumiam fast-food diariamente tiveram pontuação média de 79 em ciência, já aquelas que nunca se alimentavam dessa forma tiveram nota 83. Resultados semelhantes apareceram em testes de compreensão de texto e matemática.
MENOS NUTRIENTES
Os resultados se mantiveram iguais mesmo após os pesquisadores levarem em conta uma grande variedade de fatores que poderiam explicar por que aqueles com alto consumo desses lanches tiveram pontuações mais baixas. Foi considerado o quanto de exercício faziam, o quanto eles assistiam a TV, quais outros alimentos comiam, o nível socioeconômico da família e as características de seu bairro e de sua escola.
Os responsáveis pela pesquisa se concentraram na relação estatística do consumo de fast-food com pior desempenho escolar, sem se ater às causas biológicas por trás do fenômeno. Mas eles citaram outras pesquisas que mostraram que esse tipo de alimento carece de nutrientes, especialmente o ferro, que ajuda no desenvolvimento cognitivo. Além disso, as dietas ricas em gordura e açúcar — semelhante às refeições estudadas - têm sido apontadas como fator que atrapalha os processos de memória e aprendizagem.
Segundo o endocrinologista Luciano Negreiros, a substituição de um prato equilibrado pelo vulgo junk food, e a prevalência do sedentarismo entre as crianças faz com que a obesidade seja um problema latente no Brasil.
- Além da fixação pela tecnologia, a violência urbana também faz com que elas fiquem em casa e brinquem menos na rua, como era comum antigamente - afirma o médico.
Dados de 2013 da Iniciativa de Vigilância da Obesidade Infantil, parte da Organização Mundial de Saúde (OMS), apontaram que cerca de um terço dos pequenos de 6 a 9 anos está obeso ou acima do peso em todo o mundo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a proporção é a mesma.
De acordo com Negreiros, a carência não aparente de um ou mais micronutrientes no organismo também está ligada ao fenômeno observado na pesquisa americana.
- Nos casos mais graves, o jovem fica apático, começa a ter dificuldade cognitiva e de aprendizado, o cabelo fica ralo, e as unhas, mais quebradiças - observa.
Hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, varizes, hérnias, doenças emocionais, câncer e problemas ortopédicos são reflexos da má alimentação na vida adulta. Em alguns casos, há resistência dos próprios pais quanto à reeducação alimentar. Preocupado com esta realidade, Negreiros desenvolveu o “Projeto Bolochinha”, que visa a transformar pais, professores e educadores em multiplicadores da importância da qualidade alimentar e da prática de exercícios físicos por meio de palestras.
- O ambiente escolar tem que passar pela mudança, e a família inteira deve ser envolvida. Porque não adianta os pais se esforçarem se, na hora em que a criança chega na casa da avó, por exemplo, muda tudo - diz Negreiros, que costuma negociar com alguns pacientes uma refeição de fast-food a cada 15 dias.
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