Fisioterapeuta e escrevente contam como a família cresceu a cada filho. Juntos, eles mantém um lar de carinho, atenção e muitas brincadeiras.
Quando a fisioterapeuta Ana Paula Amaral e o escrevente Ricardo Augusto Vieira decidiram adotar o primeiro filho, eles não imaginavam que se tornariam pais de outras quatro crianças com deficiência. Hoje, o casal de São Carlos (SP) comemora essa trajetória. "Eu já gastei todos os meus créditos na vida mandando mensagens para Deus, mensagens de gratidão", disse Vieira.
Ele contou que cada uma das adoções tem uma história especial. "Primeiro, a Paula assistiu a um filme e falou: 'Olha, acho que poderia ser Down'. Aí, a gente fez a habilitação para Down, colocaram nosso nome no cadastro e fomos buscar o Didi, o mais velho. Depois, por um engano abençoado, a gente permaneceu na lista e isso nos permitiu ter nossa segunda filha, a Clara".
Na sequência, para completar a família, vieram o Henrique e a Tainá. "A situação apertou financeiramente. Eu era professor de filosofia no Ensino Médio, a Paula em dois, três empregos e prestei concurso para escrevente. Eu teria que começar a trabalhar no dia 21 e o pessoal ligou e falou: 'Sua filha tem que ser buscada no dia 21'. Eu faltei no meu primeiro dia de serviço para buscar nossa quarta filha, a Tainá", contou.
Guilherme foi o último a ser adotado. "A assistente social conversou comigo pelo telefone e falou: 'Olha, ele é moreno, moreninho'. Eu falei: 'Sei, sei'. E continuei conversando. 'Olha, ele é bem moreno, ele é moreno escuro'. Aí, eu percebi que ela estava com dificuldade devido ao preconceito. Aí, eu disse: 'Olha, a senhora poderia me dizer que ele é negro, por favor?'. Hoje ele é um dos nossos filhos mais alegres. Ele não enxerga, ele não entende muito bem, mas ele sorri, ele aprendeu a abraçar, abraça os irmãos", contou Vieira.
Cada criança trouxe consigo alegria e cuidados. A rotina inclui levar os filhos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), dar remédios, cuidar da alimentação e, claro, brincar.
"É só por amor que a gente tenta cuidar de outra pessoa, então se é seu filho biológico ou se é um filho adotivo, a partir do momento em que você decide ser pai, ser mãe, é uma coisa que é do coração", comentou Ana Paula.
Saudade
Apesar das alegrias, uma saudade vai companhar para sempre o casal. Clara, Clarinha, como era chamada, morreu com sete anos. "Ela era linda. Ela tinha um prognóstico muito ruim, de no máximo 30 dias de vida. A gente estava a cada mês esperando que ela fosse falecer e parou de esperar porque ela estava linda", contou Ana Paula. Agora, a fisioterapeuta carrega o nome da criança no braço, tatuado.
Depois de adotar, ela descobriu que não pode dar à luz, mas a notícia, ao contrário do que costuma acontecer, não foi mal recebida. "Não foi uma coisa para sofrer, a gente sente que foi uma coisa só para dizer que estamos no caminho certo."
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