Esta terapia que utiliza o cavalo como ferramenta promove ganhos motores e psicológicos.
Daniel Limas, da Reportagem do Vida Mais Livre
Sem precisar de qualquer pesquisa científica, é fácil apontar alguns dos inúmeros benefícios de ter um animal de estimação ou mesmo estar próximo deles. Ah! vale dizer que é preciso gostar de animais. No entanto, o que poucos sabem, é que os bichos também podem ser protagonistas de terapias de reabilitação de pessoas com deficiência. Instituições e profissionais que trabalham com este tipo de terapia relatam excelentes resultados.
Uma das terapias que fazem uso de animais é a equoterapia, que como o próprio nome diz, trabalha com cavalos. Ela une as técnicas de equitação e atividades equestres com a finalidade de reabilitar e educar as pessoas com deficiência. “Os principais ganhos são os motores e os psicológicos”, explica Liana Pires Santos, psicopedagoga do Gati (Grupo de Abordagem Terapêutica integrada). Jorge Matsuda, especialista em educação e vice-diretor do Centro Básico de Equoterapia General Carracho (CBEGC-DF), da Ande (Associação Nacional de Equoterapia), também é da mesma opinião: “o passo do cavalo estimula o deslocamento do corpo no espaço e, com isso, exercita o equilíbrio, a coordenação, o tônus muscular e a postura. Além disso, possibilita ganhos psicológicos, aumentando a autoestima e a autoconfiança”, explica. Isso ocorre porque o animal torna-se um amigo digno de total confiança, que ajuda com suas pernas e patas para a melhora dos pacientes.
“Durante toda a sessão, os terapeutas também ajudam a estimular a fala, a linguagem, o tato, a lateralidade, cor, organização e orientação espacial e temporal, memória, percepção visual e auditiva , direção, análise e síntese, raciocínio, e vários outros aspectos”, explica Jorge Matsuda. Na esfera social, a equoterapia ainda é capaz de diminuir a agressividade, tornar o paciente mais sociável, diminuir antipatias, construir amizades e treinar padrões de comportamento como: ajudar e ser ajudado, diminuir e aceitar regras, encaixar as exigências do próprio indivíduo com as necessidades do grupo, aceitar as próprias limitações e as limitações do outro.
Apesar de ser uma terapia bastante recomendada, ela tem restrições ou contra-indicações, como quase tudo nessa vida. Por isso, é imprescindível que o paciente passe por uma avaliação médica que ateste as condições e também é recomendada uma análise psicológica e fisioterápica do futuro praticante. “Também não costumo recomendar a equoterapia para pessoas com alergias aos animais e com restrições ortopédicas”, explica Liana.
Antes de começar o tratamento em si, Jorge Matsuda ainda recomenda que o paciente seja estudado por uma equipe interdisciplinar composta por profissionais das áreas de educação, saúde e equitação, quais sejam: pedagogos, professores de educação física, de ensino especial, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, médicos, profissionais de equitação habilitado em Equoterapia e outros. O praticante é avaliado pela equipe e a partir disso é elaborado um programa especial e definido os seus objetivos.
Normalmente, as sessões são individuais e têm a duração média de 30 minutos cada. O tratamento em equoterapia dura em média dois anos no Centro Básico de Equoterapia General Carracho (CBEGC-DF), podendo ser reduzido ou dilatado em função do diagnóstico, da característica de cada praticante, do desenvolvimento do trabalho terapêutico e outros fatores intervenientes. Outra característica importante é que, para poder atuar no tratamento das pessoas com deficiência, os cavalos são selecionados e separados segundo uma série de características físicas e psicológicas e necessitam ser constantemente trabalhados e adaptados para a equoterapia.
Segundo profissionais da área, a equoterapia é indicada para o tratamento dos mais diversos tipos de comprometimentos motores, como paralisia cerebral, problemas neurológicos, ortopédicos, posturais; comprometimentos mentais, como a Síndrome de Down, comprometimentos sociais, tais como: distúrbios de comportamento, autismo, esquizofrenia, psicoses; comprometimentos emocionais, deficiência visual, deficiência auditiva, problemas escolares, tais como distúrbio de atenção, percepção, fala, linguagem, hiperatividade, e pessoas "saudáveis" que tenham problemas de posturas, insônia, stress.
Heitor Borella, que nasceu com paralisia cerebral, praticou equoterapia com a psicopedagoga Liana durante dois anos – de 2003 a 2005. “Só parei porque um médico orientou que eu parasse porque eu estava ficando corcunda e a terapia poderia prejudicar ainda mais”, explica o rapaz que hoje tem 19 anos, estuda jornalismo (quarto semestre) e é assistente administrativo da área de seguros do Itaú Unibanco.
Ele considera esse tratamento fundamental para a vida das pessoas com deficiência. “Essa prática mexe com todos os movimentos da pessoa. Traz benefícios enormes para a coluna e para as pernas. Fora isso, é ótimo para a parte psicológica, pois a oportunidade de ter contato direto com os animais acaba refletindo no psicológico. Ao fazer a terapia, percebi grande melhora no meu humor, na vontade de fazer as coisas e no ritmo de vida”, relata Heitor.
O jovem também recomenda que o paciente saiba esperar um pouco, pois os resultados não aparecem logo nas primeiras sessões. “Mas eu já vi caso de uma pessoa que não conseguia ficar sobre o cavalo e logo foi progredindo. Achei espetacular”, lembra. Ele também conta que descobriu essa terapia graças à Liana, que já foi a sua psicopedagoga. Ela começou a trabalhar com a equoterapia por volta do ano 2000, e ele se interessou pelo novo trabalho da Liana. “Demorei três anos para convencer a minha mãe”, conta. Para finalizar, uma dica de Liana: “Ter um animal em casa já ajuda muito. Além disso, está comprovado que ter um animal tira a pessoa do sedentarismo e traz benefícios para a rotina de vida e responsabilidades”, explica.
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