Ao entrar em qualquer supermercado nesses dias que antecedem a Páscoa dá a nítida impressão de que você está no lugar errado. Seria ali uma loja de brinquedos?
Não é, mas parece. A cada ano, os ovos de Páscoa para o público infantil estão mais caros porque vem acompanhados de brinquedos maiores e mais atrativos aos olhos da criançada. Os brinquedos são na verdade objetos simples, como canecas, maletinhas, bonecos pequenos, normalmente feitos de plástico e de pouca durabilidade. Mas, que criança que não vai querer ter mais um super-herói, ou princesa ou outro personagem favorito em casa?
Ao se deparar com aquele corredor colorido, a cena no mercado se repete diariamente. A criança olha aquele atrativo e quer levar pelo menos um para casa. Os pais, muitas vezes cedem e compram e, outros, resistem mesmo aguentando birras e choros incessantes do filho que, muitas vezes, nem sabe o que é Páscoa e que ali tem um chocolate junto.
A Páscoa deixou de ter um caráter religioso para ser uma época de lucro, principalmente, com o público infantil, da mesma forma que já acontece no Natal e no Dia das Crianças. A opinião é da advogada do Instituto Alana, Ekaterine Karageorgiadis, que explica que os fabricantes de ovos de Páscoa ferem a resolução 163 do Conanda (Conselho Nacional da Criança e do Adolescente), que proíbe a publicidade voltada para o público infantil e o Código de Defesa do Consumidor, que proíbe a venda casada.
“Se comparar o preço de um chocolate de 150 gramas normal com um de ovo a diferença é grande. Um ovo chega a custar cinco, seis, até sete vezes mais. Então, o brinquedo não é brinde, está sendo vendido junto”, comenta.
Segundo ela, nessa época também acontece um consumo desenfreado e desnecessário pois uma criança não ganha só um ovo. Normalmente os pais dão um, ganha outro das tias, dos avós, dos primos, etc. “Essa é uma época para refletir, conversar com os familiares e fazer um análise sobre o próprio consumo. Dá para fazer uma Páscoa divertida sem comprar tanto”, orienta. Isso sem mencionar que doce em excesso não faz bem para ninguém, muito menos para as crianças.
Além dos brinquedos que vem com o ovo, as estratégias publicitárias vão além. Nesta época do ano, comerciais na TV mostram ainda brinquedos que são colocados em embalagens de acrílico no formato de ovo para que a criança peça um brinquedo na Páscoa.
PARA MENINOS E MENINAS
Fora que nos últimos anos há ainda mais algo no setor ovos de Páscoa: chocolates para meninos e para as meninas. “A separação que já existe nas lojas de brinquedos agora também é feita nos supermercados nas vendas dos ovos”, comenta.
A pedagoga Patrícia Paiva, 30, ficou surpresa ao ver os ovos divididos em setores “para meninos” e “para meninas”. “Fico me perguntando qual será a escolha das meninas que curtem batman, homem-aranha, capitão américa e dos meninos que amam o filme da Frozen, por exemplo”, comenta. A filha dela, Manuela, 3 anos, não gosta de chocolates, então, ela acredita que será mais fácil combater o consumismo desenfreado dessa época do ano.
“Fazem com que os pequenos inocentes fiquem encantados, desejem e tornem-se pequenos fiéis consumidores. Essa separação de ‘meninos’ e ‘meninas’ é uma reafirmação da sociedade machista em que vivemos”, comenta.
O MILC (Movimento Infância Livre de Consumismo) lançou uma campanha nas redes sociais para informar que a prática é abusiva e aconselha os consumidores a boicotarem a compra desses produtos.
QUAIS AS ALTERNATIVAS?
Os pais têm várias alternativas para fazer a Páscoa da garotada divertida. Uma delas é o chamado “comprar de quem faz”. Ou seja, comprar de pessoas que fazem o chocolate caseiro e que não vai vir associado a nenhum personagem ou brinquedo.
Os pais também podem adquirir ovos menores que, além de mais baratos, não vem com brinquedos. Outra alternativa é pintar ovos de galinha junto com as crianças e depois escondê-los pela casa em um verdadeiro ‘caça aos ovos’. A diversão certamente é garantida assim como fazer ‘caça aos ovos’ com mini ovos de chocolate que também são bem mais em conta.
ONDE DENUNCIAR?
Além de não comprar, a advogada do instituto Alana e o MILC pedem que os consumidores reclamem com as empresas e ainda procurem o Procon de sua cidade ou outros órgãos competentes como o Idec, Ministério Público Federal, entre outros. No site do Projeto Criança e Consumo também é possível registrar uma queixa.
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