segunda-feira, 9 de março de 2015

A nova geração de pais que mimam…

Se observamos há algum tempo uma geração criada à base de leite e pêra, cercada de mimos, já era de se esperar que estes homens mimados uma hora se tornassem pais.
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Frutos de uma classe média zelosa e protetora, estes pais (e aqui me refiro também às mães) agora exercem suas facetas mimadas no cuidado com os filhos. Este comportamento egoísta e mesquinho passa a ser exacerbado e levado ao extremo quando envolve crianças ditas inocentes, doces, meigas e suaves.
Para os pais mimados que mimam será parte de sua missão aqui na terra livrar seu filho de qualquer empecilho e obstáculo natural e necessário, tal qual como tédio, bagunça, tio chato, normas da sociedade, rituais da nossa cultura etc. Para um pai mimado, a vontade do filho não precisa ter limites.
A seguir alguns dos principais comportamentos na relação que os pais mimados estabelecem com seus filhos.
Eles fazem da criança o centro da casa
Talvez uma das principais características dos pais que mimam seja o fato de a rotina da casa ser adequada de acordo com as vontades da criança. Cadeirão da comida na frente da televisão, horários não determinados, cadeira distrativa para entreter o bebê, produtos, acessórios, engenhocas específicas, tudo essencialmente voltado para ele. E para a loucura da casa.
Em French Children Don’t Throw Food, Pamela Druckerman conta o que faz das crianças francesas mais comportadas. Entre pesquisas, entrevistas e exemplos, a autora mostra que o fato dos pais franceses não tratarem as crianças como centro da casa é essencial para que elas entendam que se adequarão a um modelo já existente – e não o contrário! Tratar a criança como o centro da rotina de toda a casa é a base de uma educação de mimados para mimados.
“Para a geração de meus avós e de meus pais, a vida dos adultos não devia ser decidida em função do interesse das crianças, até porque o principal interesse das crianças era sua transformação em adulto” –Contardo Calligaris
Eles acreditam que criança só come bife e batata frita
Com certeza ele já tem idade para saber o que é mais saudável e com certeza o que é mais saudável estará nesse cardápio. Por terem suas vontades tomadas como verdade absoluta, é claro que estas crianças não comeriam o que os pais comem. Ou porque é temperado demais, ou porque tem vegetais e uma vez ele recusou ou porque, veja só, Pedrinho só come macarrão com manteiga, não aceita outra coisa.
Cada vez mais comum nos restaurantes, o cardápio kids fica sempre entre opções não muito criativas: macarrão, bife, batata frita. E se mesmo assim a criança recusa o almoço, existe um leque de industrializados que será oferecido em pouco tempo para que o pimpolho não passe fome: bolacha, salgadinho, achocolatado, sucos açucarados…
Além de nada saudável, isto é um alerta de mimo: criança come o que você ensina a comer. É muito mais simples achar sabor num macarrão do que, de cara, numa couve-flor.
Lição de casa para os pais que tendem a mimar: ler os escritos de Pat Feldman a respeito dos pequenos e entender que o gosto pela comida é construído. Conjuntamente, na mesa de refeição, estimulando que experimentem, entendendo o apetite da criança e respeitando seu gosto. Sempre ensinando que parte importante da refeição é o convívio com os outros e demonstrando respeito pela comida que foi feita em casa e que será a base da refeição de todos que por ali moram.
Eles não conversam, distraem
É comum olhar para o lado no restaurante e encontrar uma criança hipnotizada por um iPad. Ou no carro com iPod e fones, alheia às interações do ambiente ou à ausência delas. Aliados dos pais mimados, as engenhocas tecnológicas ajudam a criança a não se frustrar, não lidar com o tédio de um restaurante repleto de adultos, de um carro sem atrativos, de uma vida inteira que às vezes não tem grandes aventuras mesmo.
Mas, ora, por mais que pais se esforcem para preencher este vazio intrínseco aos filhos, ele não será preenchido. Proteger um filho é uma missão fadada ao fracasso, já atestou Eliane Brum.
Eles não confiam na escola
Julio Groppa Aquino diz que nós, educadores destes tempos modernos, nada mais somos do que babás. “Babás+”, foi o termo engraçadinho sugerido por ele para colocar em pauta esta realidade de pais que não querem saber das relações, dos aprendizados, do ensino, das evoluções de suas crianças. Exigem em primeiro lugar que sua cria seja mimada pela escola, aplaudida a todo momento, nunca confrontada.
Não confiar em quem se confiou a educação dos filhos é uma grande insegurança, certamente um sinal de pais mimados. Nota baixa é culpa do professor, comportamento ruim é culpa da escola e a comunidade é cruel e não ideal para ensinar seu filho a lidar com a vida.
Antes a criança respondia à escola, agora é a escola que responde à criança.
Eles elogiam muito a cria
Prática comum entre os pais zelosos, elogiar a criança faz bem, aumenta sua autoestima, favorece o desenvolvimento da criança, dá segurança, correto? Errado.
No livro Filhos: novas ideias sobre educação, Po Bronson e Ashley Merryman contam de recentes pesquisas que mostram, entre outras coisas, o poder inverso do elogio.
A explicação é muito simples: assegurar a todo momento que seu filho é inteligente faz com que a criança se torne insegura desta sua condição. E, por medo de errar e perder o título da inteligência, a criança passa a arriscar menos e a se esconder atrás desta máscara. Cheia de inseguranças e com um batalhão de elogios vazios (que recebeu sem perceber seus esforços), está aí um bom início de frustração para o pimpolho.
Em comum, o que todos estes tópicos têm é que tratam a criança como um frágil cristal. Delicada, fruto de uma imaginação romântica de pureza, incapaz de lidar com qualquer obstáculo. Sabemos que frustração é algo que ninguém quer para sua cria. Mas é só o que a vida garante.
Que tal começar a criar seu filho para o mundo?

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