quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Alimentação de crianças com síndrome de Down

Alimentação de crianças com síndrome de Down


Leite materno é o melhor alimento para os bebês recém nascidos.
Crédito da foto: Ezaías E. da Silva
Uma alimentação variada e equilibrada é essencial para o crescimento e a manutenção da saúde. Aprender a comer de forma saudável desde os primeiros anos é fundamental para qualquer pessoa, mas pode trazer resultados ainda mais importantes para as crianças com síndrome de Down. Isso porque elas nascem com hipotonia, ou seja, são mais “molinhas”. Como resultado, gastam menos energia do que outras crianças e podem apresentar tendência à obesidade ao longo da vida.
Além disso, a hipotonia também pode levar à constipação intestinal (prisão de ventre) crônica, uma vez que o tecido muscular do intestino grosso não consegue realizar os movimentos peristálticos com força o suficiente para expelir as fezes. Consumir os alimentos certos pode ajudar a atenuar a constipação, assim como combater a tendência o envelhecimento precoce, outra característica frequente em pessoas com síndrome de Down. Veja abaixo quais são os principais cuidados relacionados à sua alimentação.
 Recém-nascidos
Ao nascer, independentemente da síndrome de Down, o melhor alimento para o bebê é o leite materno. A mãe pode enriquecer o seu leite comendo bastante proteína magra, frutas e verduras à vontade, além de ingerir carboidratos integrais e abusar dos líquidos. Se quiser, também é possível complementar a riqueza natural do leite ingerindo cápsulas de ômega 3, 6 e 9, choline e multivitamínico, que devem ser recomendados por um nutricionista.
O aleitamento materno é também o primeiro “exercício de fonoaudiologia” do bebê, já que seus movimentos são fundamentais para exercitar e fortalecer a musculatura da boca e da mandíbula. Ao sugar o leite da mãe para se alimentar, o bebê já está fazendo o seu primeiro exercício de independência. Sempre deixando a cabeça do bebê mais alta que o resto do corpo, a amamentação também irá prevenir inflamação de ouvidos, algo mais comum em bebês que se alimentam com mamadeira. Além disso, a amamentação também previne a obesidade.
Alimentos pastosos e sólidos
Quando o bebê começar a ingerir alimentos pastosos (papinhas), é fundamental que a mãe evite o uso do liquidificador. Ao comer alimentos amassados com um garfo, a criança não se acostuma a papinhas muito trituradas, o que ajuda a evitar dificuldades de mastigação e deglutição no futuro.
Quando começar a comer alimentos sólidos (como frutas e verduras), o bebê poderá sentir um pouco de constipação. Se a criança não consegue fazer cocô pelo menos uma vez por dia, é preciso verificar se ela está ingerindo líquidos e fibras o suficiente.
Escolhendo os alimentos certos
A diferença entre apetite e gula deve ser trabalhada desde o início: o bebê deve comer até estar satisfeito, mas sem exageros. É importante acostumar a criança desde pequena a alimentos saudáveis, evitando massas, gorduras e doces. De acordo com Zan Mustacchi, geneticista especialista em síndrome de Down, os tubérculos, como batata, cenoura e mandioca, também devem ser evitados. Isso porque os tubérculos prendem o intestino e são muito calóricos, o que pode gerar uma piora na constipação e um aumento de peso desnecessário para as pessoas com síndrome de Down. Já a ingestão de fibras por meio de alimentos como laranja, mamão, pera e linhaça deve ser reforçada, pois facilita a evacuação. 

Alimentação rica em frutas e verduras.
Crédito da foto: Michael Red
Mustacchi também recomenda o consumo de alimentos ricos em zinco e selênio, minerais que têm efeito anti-oxidante e reforçam o sistema imunológico. O zinco está presente em grandes quantidades nas ostras e também em diversos alimentos que podem ser encontrados com mais facilidade, como todos os tipos de carne e oleaginosas (como nozes e castanhas). Já o selênio pode ser ingerido por meio de alimentos como sardinha e castanha-do-pará.
Pesquisas indicam que pessoas com síndrome de Down podem ser mais intolerantes à lactose e ao glúten (doença celíaca), além de uma tendência ao hipotireoidismo. É importante levar a criança regularmente ao médico para verificar se existe algum diagnóstico relacionado a essas questões e ajustar a dieta caso seja necessário.
Alimentos que devem ser evitados:
- farinha branca
- açúcar
- leite de vaca e derivados
Alimentos que devem ser consumidos:
- verduras
- frutas
- fibras
- farinha integral
- arroz integral
- quinua
- chia
-carnes magras
- castanha-do-pará
- sardinha 
Suplementos: consulte um especialista
De acordo com Mustacchi, o ideal é consumir todas as vitaminas por meio da alimentação, pois o corpo absorve aquilo que for necessário e elimina naturalmente os excessos. No entanto, o pediatra ou nutricionista poderá indicar a necessidade de inserir alguns suplementos alimentícios para melhorar  a saúde e a alimentação da criança. Tudo deverá ser dosado para a idade e o peso da criança e prescrito por um profissional. São exemplos de suplementos utilizados:
1) Ômega-DHA: apoio ao desenvolvimento cerebral.
2) Antioxidantes: um dos genes localizados no cromossomo 21 é responsável pela fabricação de radicais livres, os quais geram oxidação das células cerebrais (e do corpo) de pessoas com síndrome de Down. O processo assemelha-se ao de cortar uma maçã ao meio e deixá-la exposta ao ar. Pesquisas revelam que cérebros de pessoas com Down se parecem muito com o cérebro de pessoas com Alzheimer: com placas oxidadas, assim como uma maçã exposta ao ar. Alzheimer’s é doença degenerativa do cérebro que também está associada a genes localizados no cromossomo 21. A fim de evitar esse processo de excesso de oxidação celular, recomenda-se enriquecer a alimentação de pessoas com Down com substâncias antioxidantes, tais como vitamina C, vitamina E e suplementos: curcumin, enzima CQ10, PQQ (pyrroloquinolina quinona), entre outros.
3) Piracetam: medicamento que já está no mercado desde os anos 80, é utilizado para melhorar a fluidez das membranas cerebrais, melhorando a comunicação entre hemisférios direito e esquerdo do cérebro. Muito utilizado para tratar dislexia também.
4) Multivitaminas: a maior parte das pessoas com síndrome de Down apresenta baixos níveis de certos minerais e vitaminas, tais como zinco, vitamina B12 e selênio. Suplementos são recomendados após avaliação do nível de nutrientes em exame de sangue.
5) 5HTP – 5-Hydroxytryptophan: aminoácido utilizado para elevar os níveis de serotonina e, consequentemente, ajudar nos movimentos peristálticos e evitar constipação;
6) Probióticos: muito utilizados para equilibrar a flora intestinal e melhorar digestão e absorção de nutrientes
7) Phosphatidylcholine: lipídio que faz parte da membrana celular e apóia performance cerebral. Pesquisa da Universidade de Cornell nos EUA encontrou evidência de que bebês com síndrome de Down que ingerem choline desenvolvem benefícios para capacidade emocional e cerebral de longo prazo.
8) TMG: Tri-methyl Glycine, apoio ao ciclo SAM, comprometido em pessoas com síndrome de Down em decorrência da presença de terceiro cromossomo 21.
9) Phosphatidylserine: importante elemento constituinte das células cerebrais, aumenta a produção de acetylcholine, utilizada em sinapses (comunicação entre neurônios).
Fontes:
- Epilepsy: Koskiniemi M, Van Vleymen B, Hakamies L, Lamusuo S, Taalas J. Piracetam relieves symptoms in progressive myoclonus epilepsy: a multicentre, randomised, double blind, crossover study comparing the efficacy and safety of three dosages of oral piracetam with placebo. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1998 Mar;64(3):344-348.
- Aphasia: Kessler J, Thiel A, Karbe H, Heiss WD. Piracetam improves activated blood flow and facilitates rehabilitation of poststroke aphasic patients. Stroke 2000 Sep;31(9):2112-2116
- Dyslexia: – Wilsher CR, Bennett D, Chase CH et al. Piracetam and dyslexia: effects on reading tests. J Clin Psychopharmacol 1987 Aug;7(4):230-237. “Piracetam-treated children showed significant improvements in reading ability (Gray Oral Reading Test) and reading comprehension (Gilmore Oral Reading Test).”
Por Christiane Aquino, com informações da cartilha “Ideias de estimulação para a criança com síndrome de Down, de  Josiane Mayr Bibase Ângela Marques Duarte
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