domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Bullying é um mito, um exagero, uma fraqueza ou nenhuma das alternativas? O que fazer?


Mas existe mesmo Bullying?

Foram tantos casos de vítimas voltando às escolas após anos e atirando em toda comunidade escolar, que hoje acreditamos mais nos efeitos nocivos da experiência. Já ouvi vários pais me dizerem “Na minha época não tinha isso não, todo mundo tirava sarro de todo mundo e ninguém se ofendia”. Essa observação aponta duas questões: A primeira delas é que as pessoas talvez ainda não saibam, mas o Bullying não é qualquer piada feita por um amigo, uma brincadeira infeliz, um comentário cínico ou uma provocação. É muito mais! É uma perseguição por parte do(s) agressor(es) com a qual a vítima não consegue lidar e nem se defender. A vítima se sente sufocada, amedrontada, sozinha e impotente. A segunda questão é que seu filho não precisa passar por tal constrangimento pra se mostrar forte, não é?
A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção á Infância e á Adolescência (Abrapia) considera que o Bullying pode ser identificado por meio de algumas ações: “colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences.”.
Quando eu vivi a experiência, coisas como ter a minha carteira escolar cheia de bolinhas de papel cuspidas dos cantos da sala, bilhetes ofensivos em cima do meu material, lixo jogado dentro do meu armário, comentários extremamente agressivos e ofensivos postados no meu blog da época, minha caixa de e-mail cheia de ameaças e intimidações, eram completamente cotidianas. Adolescentes que eu sequer conhecia da escola vinham perguntar coisas absurdas da minha vida pessoal, inventadas e espalhadas pelos agressores.
Em tempos de internet, a abrangência dessas perseguições só aumentou e agora temos o ciberbullying. As redes sociais são grandes potencializadoras do alcance das agressões e é preciso estar muito mais atento.

Sobre agressores e vítimas.

Não, eu não fui santa. Quem foi? Quem é? Eu tinha minhas “paixonitis” que mudavam como quem muda de roupa, eu tinha minhas melhores amigas, eu tinha ciúmes, eu tinha roupas terríveis (kkkk), eu tinha jeito de criança… Mas há alguma “desculpa” pra violência contra o outro? É como dizer que meninas que andam de shorts na rua merecem ser “atacadas”. Que absurdos são esses que “deixamos passar”?
Pois bem, eu tinha minha cota de defeitos. Ainda tenho, mas os de agora são novos. E meus agressores (dos quais abrirei mão nesse post e deixá-los-ei apenas como “agressores” e não mais como “meus”) também tinham os deles. Mas não sabíamos nos comunicar, não sabíamos conversar sobre nossas diferenças, não tínhamos aparatos psicológicos pra passar por aquilo e resolver a situação. A intolerância e agressividade que foram direcionadas pra mim estavam lá, dentro deles, latentes. Era preciso que houvesse adultos mediando, direcionando aquela energia, mas não houve.
A escola se fez de fantasma. Os professores percebiam as agressões, mas eram professores do Estado, cansados e cheios de seus problemas. A inspetora da escola, que por vezes me socorria, fingia não perceber nada logo em seguida. Meus pais, atordoados, me viam chorar todos os dias sem vontade de ir para a escola (aonde eu ficava das 07h30 às 18h00, todos os dias). Quis desistir, mas na mente inocente deles não havia motivo, eu estava fraquejando. A minha “melhor amiga” da época me disse no ápice da violência “Você sabe quem são seus agressores e não faz nada, agora eles estão me atingindo também (as mentiras começavam a envolvê-la), desisto de ser sua amiga” e se distanciou de mim por anos. Foi um choque, o último golpe que faltava.
O que me fez superar sem mediação adulta? Amigos queridos que tive na época. Pessoas que até gostaria de citar o nome como forma de reconhecimento, mas não o farei para não expô-las e não expor aqueles que foram agressores. Ampararam meus medos, me conheceram, me deram a chance de ser eu mesma e foram minha força.

 Mas a superação não se faz sem mediação

Aquilo tudo teve um custo pra mim com o qual tive que lidar. Sempre tive a vontade de me conhecer, de me potencializar, de encontrar formas melhores de comunicar e isso me fez resolver a experiência. Mas há casos e casos. Não podemos negligenciar, como adultos, como escola ou como professores, situações desse tipo. O caso é sério e precisa de mediação!
Esses adolescentes ou crianças precisam entender a origem do desagrado que lhes leva a violência e saber comunica-la. Precisam aprender a respeitar a intimidade e as diferenças do outro. Precisam de estruturas que não tem, assim como as vítimas. Cansamos de dizer que as crianças não têm preparo pra lidar com certas situações, mas por vezes banalizamos o que elas estão sentindo ou vivendo.

O que fazer em caso de Bullying?

Provavelmente você já leu algumas dicas ou artigos sobre. Aqui vão alguns passos de forma simplificada:
  • Procure a escola: É preciso um trabalho sigiloso, cuidadoso, responsável e participativo de toda comunidade escolar. A vítima precisa receber o cuidado e os agressores precisam receber ORIENTAÇÃO, e não punição.  Como a escola conduzirá a situação, dirá muito de quais valores a norteiam e qual seu preparo. Uma boa escola lidará bem com a situação e encontrará soluções. Segundo a psicóloga Patrícia Souza “As instituições de ensino têm o poder de conduzir o tema a uma discussão ampla, que mobilize toda a sua comunidade, para que estratégias preventivas e imediatas sejam traçadas e executadas com o claro propósito de enfrentar a situação.”
  • Procure ajuda psicológica para seu filho seja ele o agressor ou a vítima, não se omita. Encontre formas de ajuda-lo a viver a situação.
  • Encontre fortalecedores de auto estima: Algo que seu filho goste de fazer, se sinta bem e capaz. Pode ser aula de música, aula de dança, teatro ou qualquer coisa do tipo.
  • Esteja presente, lhe dê o espaço que precisar, mas também lhe dê muito afeto e faça-o se sentir amparado e amado.

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