Luan Fadel, de 13 anos, mora em Guarapuava e não enxerga desde bebê. Ele pratica esportes, interage na internet e pretende cursar direito.
O adolescente tem quase todos os instrumentos que toca: piano, violão, guitarra, gaita, teclado e bateria. Só falta a gaita de fole. Ele conta que aprendeu a gostar de música com o pai. “Temos em casa três pianos: dois de madeira e um elétrico”, conta. De acordo com Luan, os sons variam de um para outro. O piano preferido é o de madeira que fica em um quartinho no quintal.
Sem tempo
Apesar de passar boa parte do dia se dedicando à música, ele também gosta de fazer outras atividades.
O adolescente lamenta não poder jogar futebol com os amigos, mas diz que se contenta em ouvir narrações de partidas pelo rádio.
“Os narradores nos transmitem uma emoção enorme. No rádio, a gente ouve detalhes que a televisão não dá. É como se eu enxergasse por 90 minutos”, explica.
Para a televisão, Luan conta que não dá muita atenção. Quanto a filmes, o adolescente garante que se esforça. “Só não tem condição os filmes do Charlie Chaplin!”, brinca. Mas ele ainda prefere os vídeos do Youtube.
Como qualquer adolescente, Luan passa horas na internet. Ele decorou todas as teclas do celular e do computador. A agilidade é tanta que a voz que sai dos aparelhos – e que deveria guia-lo – chega a se perder. Sem contar que, mesmo sem enxergar, ele consegue tirar fotos quase perfeitas das pessoas.
“Nós, cegos, sempre damos um jeito de fazer as coisas. A minha deficiência não me impede de fazer quase nada”, garante. Dirigir é a única atividade que ele lista como impossível. “Mas meu pai sempre diz que, se eu quiser, posso ser piloto de avião porque no céu não tem no que bater”, relata.
Choque
A mãe, Fátima Grott Arruda, de 42 anos, nem acredita na quantidade de atividades que o filho faz todos os dias. “Ele não para”. Quando soube que Luan era cego, logo que o menino nasceu, Fátima teve medo de que o menino não conseguisse levar uma vida normal.
A mãe temeu mais ainda pelo fato de o irmão gêmeo enxergar perfeitamente. Os bebês nasceram antes dos sete meses. O parto prematuro prometia complicações, mas as sequelas acabaram afetando apenas Luan.
Apesar de os recém-nascidos terem ficado quase três meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a deficiência física do menino foi notada pelos pais apenas em casa. “Um dia, meu marido colocou os dois em um colchão no sol. O Lucas não conseguia olhar diretamente para a luz, se batia. O Luan, sim. Foi, então, que notamos que havia algum problema com ele”, lembra.
A dona de casa conta que quase entrou em depressão, principalmente porque teve uma gravidez tranquila. “Eu quase me entreguei; fiquei forte depois porque tinha que cuidar dos meus filhos”, explica. Então, aos poucos, Fátima e o marido começaram a aceitar a deficiência de Luan e a tratá-lo da mesma maneira que Lucas. “Eles caminharam sempre juntos”, diz.
Desde pequenos, os dois frequentam a mesma escola. As apostilas de Luan são passadas para braile e ele tem acesso aos conteúdos didáticos em áudio. “Aprendemos a mesma coisa”, explica o irmão Lucas.
Até pouco tempo, uma auxiliar ajudava Luan em pequenas tarefas, como pegar objetos na mochila e levá-lo ao banheiro. “Hoje, tento fazer as coisas mais sozinho. Afinal, uma hora vou para a faculdade e aí quero ser mais independente”, planeja. Mesmo no 9º ano do ensino fundamental, ele já tem o futuro bem definido.
Planos
Luan quer cursar direito. O adolescente se inspirou no desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR), Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, que também é cego.
“Assim como ele, quero mostrar a todos que o cego pode e deve ser mais incluído na sociedade, principalmente em cargos assim. Quero mostrar que nós não temos limites para trabalhar. E nem para viver”, afirma.
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